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Foto: Maysa Mandetta Clementino

Maysa Mandetta Clementino

A bióloga Maysa Clementino está na Fiocruz desde 1980, quando começou a trabalhar ainda como estagiária no IOC. Atualmente trabalha no Laboratório de Microrganismos de Referência do INCQS.

Há quanto tempo você trabalha na Fiocruz?

Estou aqui desde 1980, quando entrei como estagiária no IOC, e depois fui efetivada. Em 1982 passei a trabalhar no Departamento de Microbiologia do INCQS, 1 ano após a criação da unidade. 

Qual a sua formação?

Sou formada em biologia, fiz mestrado pelo Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ (IBqM/UFRJ),  com um projeto misto de bioquímica e biologia molecular. Fiz doutorado também no IBqM, com um projeto de desenvolvimento de marcadores para o estudo da biodiversidade microbiana. Nestes anos em que fiz o mestrado e o doutorado eu atuei como pesquisadora colaboradora, cedida pelo INCQS à UFRJ. 

Quando voltei da UFRJ fui convidada ao Laboratório de Microrganismos de Referência, onde estou atualmente.

Quais linhas de pesquisa você desenvolve?

Minha linha de pesquisa é relacionada à área de microrganismos extremofílicos,  organismos que vivem em condições extremas, como nas águas supersalinas do Mar Morto,  em crateras de vulcões, ambientes onde geralmente não se espera encontrar nenhum tipo de vida.

No Laboratório aqui do INCQS eu implantei a coleção de Archaeas de Referência, que é a única da América do Sul, e hoje faz parte da Câmara Técnica de coleções da Fundação. As Archaeas (pronuncia-se "arquéa", ou "árquea") são organismos semelhantes às bactérias, que vivem nestas condições extremas que eu mencionei. 

Fale um pouco mais sobre estes organismos...

As Archaeas foram descobertas na década de 1970, por um pesquisador que estava estudando diferentes tipos de bactérias que viviam em ambientes extremos. Ele começou a perceber que na verdade estes organismos não eram bactérias, e sim as Archaeas que estudamos hoje. 

Na ultima excursão que fizemos à Lagoa de Araruama, por exemplo, uma aluna minha pegou uma pedra de sal das salinas que existem lá. Nós recolhemos a pedra e conseguimos cultivar Archaeas que estavam lá, um ambiente totalmente hostil. 

As Archaeas podem causar doenças?

Não, uma das características é que elas não são patogênicas. Hoje em dia o estudo delas está muito voltado para a área de biotecnologia, pois elas produzem enzimas que podem ser usadas em condições extremas, como altas temperaturas. Por exemplo: quando o jeans é produzido ele é um tecido muito duro, que precisa passar por um tratamento enzimático para ficar na textura ideal. Antes era usada uma enzima de bactéria, mas hoje já se usam as enzimas de Archaeas, que são muito mais eficientes. 

Isso acontee também nas indústrias farmacêuticas, que utilizam enzimas que atuam em altas temperaturas. Antes uma enzima de bactéria não agüentava trabalhar nem a 70º C, mas uma enzima de  Archaea funciona perfeitamente a 100º C. Também são as Archaeas que produzem o gás metano, que sai das fezes das vacas e pode ser usado para gerar energia. 

Este é um assunto que está despertando grande interesse. Atualmente a maior parte das patentes deste tipo de tecnologia está nas mãos do Japão e dos Estados Unidos. 

Você também desenvolve pesquisas relacionadas ao meio ambiente.
 
Atualmente venho atuando junto com meus alunos na linha de biodiversidade e determinação de comunidades microbianas de ambientes hídricos, como as lagoas de Jacarepaguá. Estudamos o risco que a contaminação das lagoas representa para a Saúde Pública. Também temos outro projeto de avaliação de plantas de tratamento de esgoto hospitalar, para identificar os organismos que resistem ao tratamento e estão sendo liberados na natureza.

Fizemos coleta na planta do Hospital Lourenço Jorge, na Barra. Estamos utilizando técnicas da microbiologia e também técnicas mais novas da metagenômica, onde analisamos diretamente o material genético do organismo que coletamos. Estamos formando também uma coleção dos organismos que coletamos nestes locais.

Na sua opinião, quais são os maiores desafios na orientação dos alunos?

Orientar os alunos é muito bom, mas sempre tem alguns problemas. Quando definimos um objeto de pesquisa, por exemplo, coletar os microorganismos de um determinado lugar, e o aluno coleta, se esforça, mas não consegue cultivar o organismo, ele acha que está errado, e quer arrancar os cabelos. Os dele e os meus. 

A ciência não é assim, às vezes um “não” na verdade vai abrir as portas para outras questões, que podem virar outros “sim” muito mais importantes do que se esperava. 

O estudante não vem preparado para isso, ele está acostumado a aprender o que é certo, e fazer uma prova ou trabalho para acertar ou errar, mas a ciência não é assim. O aluno acha que tem que dar sempre certo. 

O que representa a Fiocruz para você?

Considero importantíssima. A Fiocruz me deu as condições intelectuais e materiais para eu desenvolver o trabalho que eu faço hoje, me deu esta possibilidade de contribuir para o desenvolvimento da ciência. Ela tem este ambiente único, nos coloca desafios, dá oportunidades. 

Eu também tive a sorte de conhecer a UFRJ, para introduzir técnicas avançadas aqui no INCQS, mas foi graças à Fiocruz que eu consegui isso. Quando eu voltei do período na Universidade tive bastante sorte, pois o diretor percebeu a importância e me deu muito apoio. 

Qual a importância desta relação com a Universidade?

O meu contato coma  UFRJ fez toda a diferença. Por mais que aqui na Fiocruz nós possibilidades de abrir os horizontes, o contato com os estudantes de graduação e diferentes pesquisadores é muito importante. Lá eu fiz grandes amigos, aprendi muito. Eu faço questão de manter o contato com a Universidade. 



Entrevista publicada em 12.07.2010 - Foto: Comunicação/Direh

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