Há quanto tempo você está na Fiocruz?
Entrei aqui na Fiocruz no concurso de 2006.
Você sempre trabalhou no mesmo setor?
Sim. Eu entrei para assumir a chefia do Serviço de Hemocomponentes e Derivados de Animais de Grande Porte, onde estou até hoje.
Quais são as principais atividades do serviço que você chefia?
Nós criamos e mantemos animais de médio e grande porte. Temos cavalos, ovelhas e cabras, machos e fêmeas. Atualmente são cerca de 50 animais. Nós fornecemos sangue destes animais para laboratórios de toda a Fiocruz, e eventualmente vendemos ou estabelecemos parcerias com outras instituições.
A coleta de sangue é semanal, nós fornecemos em recipientes esterilizados, de acordo com as especificações do laboratório. Aqui nós também fazemos a coleta de sangue de outros animais criados no Cecal, como camundongos e coelhos.
E quais são os maiores desafios neste trabalho?
O maior desafio é a equipe pequena, para uma demanda grande. Nosso serviço está no meio do caminho entre o administrativo e a pesquisa, então temos que manter sempre o serviço funcionando, buscando dar um salto de qualidade a cada ano, estando sempre motivado para uma meta nova. Para isso, é preciso administrar bem o orçamento, que nem sempre é o que a gente gostaria.
Como sou chefe do serviço, eu tenho que coordenar as ações práticas, inclusive atuando nas ações, tenho que ser uma espécie de mini-núcleo de RH, exercer função de gestor, administração. Procuro sempre olhar transversalmente, para que possamos desempenhar o melhor trabalho possível
Você tem idéia de quais pesquisas são feitas com o sangue que vocês fornecem?
Bom, nós fornecemos para uma infinidade de pesquisas diferentes, em todas as unidades. O sangue das cabras, por exemplo, é utilizado por Biomanguinhos na produção dos kits de teste rápido, como o do HIV, Dengue, entre outros.
Podemos observar que nas paredes há vários trabalhos publicados pelos profissionais que trabalham aqui. Vocês atuam de alguma forma com a pesquisa?
Publicar trabalhos é uma meta pessoal, que eu estimulo os trabalhadores a fazerem. Isso é um meio tanto de disponibilizarmos dados e práticas que desenvolvemos aqui para que outras pessoas possam aprender com isso, quanto dos trabalhadores crescerem e aprenderem. É também um meio para alguém que entra aqui, como você ou a minha chefia por exemplo, possa conhecer melhor nosso trabalho além do que se vê.
A publicação de trabalhos é importante principalmente para os terceirizados, pois isso pode fazer diferença mais pra frente, em um concurso. Eu sempre incentivo os trabalhadores a escreverem, ajudo na montagem do trabalho, que normalmente sai com o nome de todos nós do serviço.
Como servidor público, de que forma você vê a importância do seu trabalho para a Fiocruz e como ele se reflete na sociedade?
Sei que o trabalho que começa aqui, nos animais criados e mantidos pela minha equipe, passa por uma série de processos e se desenvolve até que em algum momento, vai poder contribuir de forma significativa com mudanças na qualidade de vida da população. Seja por vacinas, kits ou materiais de aula. E isto faz toda diferença, pois para mim, ser servidor da Fiocruz é ter a possibilidade de trabalhar para mudar efetivamente a vida das pessoas.
O que significa a Fiocruz para você?
A minha história com a Fiocruz começou muito antes de eu entrar aqui, quando meu filho, que hoje tem 14 anos, foi diagnosticado ainda na barrida com problemas na coluna. Na época, o médico que estava acompanhando a gravidez nos abandonou, e soubemos que nosso filho tinha grandes chances de desenvolver sérios problemas de limitação de movimentos.
Foi então que, por intermédio de conhecidos, eu fui para o IFF, onde meu filho foi operado com 14 dias de vida. Hoje ele é totalmente saudável, sem nenhum problema. A Fiocruz fez a diferença na vida do meu filho.
Eu acho que a Fiocruz pode fazer a diferença na vida de uma pessoa, assim como fez para o meu filho, e isso é muito importante. Acho que você contribuir para mudar a vida de uma pessoa é algo que não tem preço. Acredito que indiretamente, o trabalho desenvolvido por cada um aqui dentro contribui para resultados como este lá na ponta. Só de pensar que o sangue da cabra está ajudando numa pesquisa que pode fazer a diferença entre a vida e a morte de uma pessoa, isso é muito gratificante.
Acredito que foi por isso tudo que a Fiocruz fez por mim que eu passei no concurso, para trabalhar aqui como uma forma de retribuir com o meu trabalho.
Entrevista publicada em 28.05.2010 - Foto: Comunicação/Direh