Cogepe - Coordenação Geral de Gestão de Pessoas

Abertura do 1º Fio-Ensat debate relações de trabalho e saúde e insere o trabalhador no centro da discussão

18.11.2019 às 10:21 - 0 Comentários

Ciclo de cinco encontros complementa a ação

O Salão Internacional da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) sediou a abertura do 1º Encontro de Saúde do Trabalhador da Fiocruz (Fio-Ensat), realizado na manhã do dia 8/11 (sexta-feira). A lotação máxima e uso de uma sala de apoio para acomodação dos participantes demonstrou que os trabalhadores atenderam à convocação e assumiram o protagonismo que lhes cabe na discussão sobre saúde e trabalho. A mesa de abertura contou com uma rodada de falas institucionais, finalizada pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima e precedida pela mesa temática intitulada: O Estado Brasileiro e a Saúde do Trabalhador da Fiocruz. Conduziram as discussões centrais os palestrantes da Universidade de São Paulo (USP), Ruy Braga, da Fiocruz Brasília, Jorge Machado, e da Vice-Presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Juliano Lima. Sônia Gertner (CST/Cogepe) e Katia Reis (Cesteh/Ensp) coordenaram a mesa e representaram a comissão organizadora do 1º Fio-Ensat na programação do evento.

 

Mesa de abertura firma posicionamentos institucionais e valoriza a participação dos trabalhadores

 

Primeiro a se pronunciar, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN), Paulo Garrido, defendeu a importância de dimensionar e trazer para a reflexão os impactos da PEC Emergencial, que tramita no Congresso Nacional e pretende estabelecer mecanismos de cortes de gasto nos serviços públicos. O sindicalista lembrou que o tema da saúde do trabalhador é pauta permanente da Mesa de Negociação, instância que, segundo ele, deve ser valorizada diante do cenário de intransigência e ausência de diálogo.

 

A coordenadora-geral de Gestão de Pessoas, Andrea da Luz, demonstrou satisfação com a lotação do auditório. “Acertamos no sentido de valorizar o trabalhador e abrir essa possibilidade de participação, que é uma característica do campo da saúde do trabalhador”, afirmou. Em sua fala, Andréa enfatizou a necessidade de se ter um Estado inclusivo com trabalho digno e a favor das minorias. A gestora alegou ser preciso pensar formas de inserção dos trabalhadores em todos os seus diferentes espaços, reforçando o compromisso de promover debates com a totalidade da força de trabalho da Fiocruz, entendendo a prática como fundamental para reforçar os valores sociais defendidos pela instituição.

 

Para Hermano Castro, diretor da Ensp, a saúde do trabalhador é uma área de militância. O diretor teceu críticas ao atual cenário de redução de investimentos públicos e fez projeções de como esta política impacta a saúde. Para ele, os indicadores de saúde não são usados como investimentos, mas como custo. Hermano falou ainda da precarização das relações de trabalho e de sua relação direta com a diminuição do Produto Interno Bruto (PIB).

 

“Saúde do trabalhador e da trabalhadora é direito de todos e dever do Estado”, foi com essa frase, em referência ao artigo 196 da Constituição Federal e que foi tema da 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, que Marco Menezes, Vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), iniciou sua fala. Salientando os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revelam que a concentração de renda aumentou em 2018, e reforçando a extrema desigualdade social no país, Menezes relacionou o contexto atual à importância de eventos voltados à saúde do trabalhador.

 

“Esses dados nos mostraram que o rendimento médio mensal de trabalho da população 1% mais rica foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre em 2018, o que nos fazem questionar onde estão os empregos desse 1% e em que condições a parcela mais pobre da população trabalha. E é nesse contexto e com esses questionamentos que iremos discutir a saúde do trabalhador da Fiocruz, nesse evento”, afirmou o vice.

 

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ratificou as falas anteriores enfatizando as ações internas voltadas à saúde do trabalhador da Fiocruz, como o Fiocruz Saudável. “O grande enfretamento da saúde do trabalhador da Fiocruz hoje é garantir o espaço público coletivo para que as pessoas possam se sentir parte da instituição. E algumas ações vêm sendo aplicadas com esse objetivo, como exemplo, temos o trabalho conjunto do Cesteh, o trabalho da Cogepe, da VPGDI e a relação com a Asfoc. Além disso, temos algumas ações que são desenvolvidas com a função de nos reunir e de pensar o cotidiano dos nossos profissionais, o Fiocruz Saudável é uma delas, que visa integrar a saúde do trabalhador, biossegurança e gestão ambiental para desenvolver ações que resultem na melhoria da saúde dos trabalhadores da Fundação”, destacou.

 

Mesa temática cruza atuação do poder público com atual situação do trabalho no Brasil e com a saúde dos trabalhadores da Fiocruz

 

A coordenadora de Saúde do Trabalhador da Fiocruz, Sônia Gertner, contextualizou a ação antes de iniciar a mesa temática. Sônia explicou a nomenclatura do evento (1º Fio-Ensat), salientando que ela se deu por ser o primeiro encontro nacional a convocar todas as regionais da Fiocruz. “Estamos muito felizes com a realização desse evento e temos o desejo de que ele consiga elucidar as questões a respeito do trabalho e da saúde na Fiocruz, além de construir propostas de mudanças. Até o momento, nossas únicas certezas são de que, embora o evento leve o ‘primeiro’ no nome, não estamos começando agora e não vamos conseguir caminhar sozinhos, por isso a importância da participação de todos os trabalhadores nessa jornada de cinco encontros para construção coletiva de mudanças no campo da saúde do trabalhador da Fundação”, enfatizou.

 

O professor associado do Departamento de Sociologia da USP, Ruy Braga, enfatizou a política do precariado no âmbito da juventude ao abordar as relações de trabalho da nossa sociedade. Segundo Ruy, o conceito de “precariado” vem da definição de proletariado precarizado, grupo integrante da classe trabalhadora que entende a precariedade como inevitável no processo de mercantilização do trabalho, questão amplamente abordada em um de seus livros, atribuindo a esse fenômeno uma crescente desconexão dos jovens com o trabalho. “Esses jovens precariados vêm de muitas classes sociais e o mercado brasileiro é muito segmentado e segregado, então mesmo nos setores tradicionais estes jovens não conseguem empregos nos quais se sintam valorizados e motivados, por isto, tendem a atravessar o processo de proletarização e acabam não conseguindo reproduzir aquela que foi a trajetória sócio ocupacional das gerações anteriores”.

 

Segundo o palestrante, apenas isso, já introduziria um elemento de diversidade que aumenta a desigualdade, “mas para completar, soma-se o fato de que mulheres trabalhadoras ganham muito menos que os homens trabalhadores, negros ganham menos, e consequentemente as mulheres negras ganham menos que os homens negros. E ainda temos a informalidade, que é o motivo central para entender o que faz os jovens investirem no setor do microempreendedorismo. Juntando tudo, temos como resultado uma ampliação do precariado que eu diria ser muito heterogênea, e composta por grupos que não se comunicam uns com os outros”, explicou o sociólogo.

 

Em sua fala, o coordenador do Programa de Saúde do Trabalhador da Fiocruz Brasília, Jorge Machado, contextualizou o tema central da mesa – O Estado Brasileiro e a Saúde do Trabalhador – relembrando o legado histórico da saúde do trabalhador na própria Fiocruz. Militante da área e um de seus precursores na instituição, o palestrante lembrou do papel fundamental da participação dos trabalhadores na construção da democracia, em marcos como a 8ª Conferência Nacional de Saúde, destacando a saúde do trabalhador como um dos reflexos desse movimento. Machado discorreu ainda sobre a criação do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/Ensp) e da Coordenação de Saúde do Trabalhador (CST/Cogepe), entre as décadas de 1980 e 1990.

 

Durante sua explanação, Jorge Machado estruturou, ainda, uma matriz contendo objetos, abordagens e conceitos diversos de saúde do trabalhador, passando dos riscos qualitativos da saúde ocupacional até a vulnerabilidade territorial das abordagens epidemiológicas locais em um ambiente que integra vida e trabalho, citando como exemplo o caso dos pescadores e marisqueiros do Nordeste, afetados pelo recente derramamento de óleo na costa brasileira. Antes desse cenário atual, esse processo teria sido perpassado por abordagens ergonômicas e ergológicas em postos de trabalho e pela medicina social com ênfase nos riscos de atividades e território nos processos de trabalho. Por fim, o gestor convocou a todos para um trabalho integrado. “Temos que trabalhar em rede. Somos todos uma rede”, finalizou.

 

Terceiro componente da mesa, o coordenador-executivo da Vice-presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Juliano Lima, enfatizou que seu lugar de fala se dá a partir da posição de gestor e não como um profissional da área de saúde do trabalhador.  Na sua apresentação, Juliano discorreu sobre sua percepção em relação ao campo da saúde do trabalhador e de como a partir de um conjunto multidisciplinar de conhecimentos se expressa na prática e melhora a vida das pessoas. Juliano destacou avanços da área e demonstrou preocupações relativas ao “momento dramático” que vive o país com uma “crise interminável”, e de como a tensão e o conjunto de sofrimentos da sociedade se expressam também na Fiocruz. “Na minha perspectiva histórica, nunca foi tão difícil tratar de saúde do trabalhador, mas nunca foi tão necessário”, disse Juliano, lembrando que há movimentos singelos que atuam como contracorrente conseguindo “pequenos ganhos, melhoras que permitam apropriação pública.” Para Juliano, encontrar formas de tratar o tema e atrair os trabalhadores para o debate são atitudes revolucionárias.

 

Juliano disse não ter medo de errar que o campo da saúde mental se constitui como um dos maiores desafios na Fiocruz. O gestor apontou a existência de dados coletados no Anuário de Saúde do Trabalhador e na realização dos exames periódicos que evidenciam a necessidade de priorizar o tema, que será debatido no próximo encontro promovido pelo Fio-Ensat, no dia 2 de dezembro. Ao finalizar sua apresentação, Juliano propôs uma série de questões, que segundo ele, abrangem problemas agudos a serem enfrentados, como por exemplo, a precarização do trabalho, as mudanças no serviço público, a redução da capacidade institucional de ação e de proteção dos trabalhadores, a violência estrutural dos centros urbanos que gera sofrimento e angústia nos trabalhadores, entre outros temas.

 

Saiba mais

 

Como desdobramento do evento de abertura, o próximo passo do Fio-Ensat será a realização de um ciclo de diálogos sobre trabalho e saúde na Fiocruz, com as seguintes temáticas: Saúde Mental e Trabalho na Fiocruz, em dezembro; Diversidade e Inclusão no Trabalho na Fiocruz, em fevereiro de 2020, na Fiocruz Brasília; Violências e trabalho na Fiocruz, em março de 2020; Acidente de Trabalho e Vigilância em Saúde do Trabalhador na Fiocruz, também em março e programado para ocorrer na Fiocruz Bahia e, por fim, em abril de 2020 o tema: Saúde do trabalhador e organização por local de trabalho na Fiocruz.

 

O Fio-Ensat é uma construção coletiva de setores institucionais vinculados à Saúde do Trabalhador e integra a programação comemorativa dos 120 anos da Fundação. Participam as vice-presidências de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAPS) e de Gestão e Desenvolvimento Institucional (VPGDI); a Coordenação de Saúde do Trabalhador da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (CST/Cogepe); o Cesteh da Escola nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp); e a representação dos trabalhadores, a Asfoc-SN.

 

Confira o vídeo com a íntegra da transmissão realizada pela Asfoc-SN no link: https://www.youtube.com/watch?v=n0jAntRokp4

Saúde do Trabalhador, fio ensat, Ensat

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